
Moradores de cidades da Bahia viveram momentos de espanto e curiosidade no fim da tarde da última quarta-feira (14), ao presenciarem uma intensa luz cruzando o céu em alta velocidade. Descrita como uma “bola de fogo”, a cena foi registrada em vídeos e fotos que rapidamente viralizaram nas redes sociais. O fenômeno também foi observado em estados como Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e no Distrito Federal, mas foi especialmente visível no Oeste baiano. De acordo com especialistas, o objeto que iluminou o céu se tratava de um estágio do foguete Falcon 9, lançado pela empresa norte-americana SpaceX em agosto de 2014. A estrutura, que estava em órbita desde então, reentrou na atmosfera terrestre e percorreu cerca de 1.500 quilômetros em aproximadamente quatro minutos, antes de se desintegrar. A identificação foi confirmada pela Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon), com apoio de dados orbitais internacionais. As informações são do G1. 683u17
O foguete Falcon 9 foi lançado, em 5 de agosto de 2014, durante uma missão da SpaceX que colocou em órbita o satélite AsiaSat 8, voltado para comunicações na região Ásia-Pacífico. Após o cumprimento da missão, o segundo estágio do foguete permaneceu no espaço como lixo espacial. Com o tempo, a gravidade terrestre e a resistência da atmosfera alteraram sua trajetória, até que ele reentrou na Terra na noite de quarta-feira. A Bramon, em análise técnica, apontou que o corpo do foguete identificado como Norad 40108 foi o que cruzou o céu, causando o fenômeno. A confirmação foi reforçada por análises dos especialistas internacionais Jonathan McDowell e Joseph Remis, reconhecidos por seus estudos sobre órbitas de objetos espaciais. “Após cumprir sua missão, o segundo estágio do Falcon 9 permaneceu em órbita como lixo espacial e, com o tempo, sua trajetória foi decaindo até resultar na reentrada atmosférica observada nesta quarta”.
Na Bahia, os registros foram concentrados no Oeste do Estado, especialmente em cidades como Barreiras, Luís Eduardo Magalhães e Correntina. Moradores relataram surpresa e até medo ao verem o céu cortado por uma luz intensa, seguida de um rastro esbranquiçado que desapareceu em segundos. A forte luminosidade gerada pelo atrito do objeto com a atmosfera terrestre criou a impressão de que o céu estava sendo rasgado por uma chama, reforçando a ideia de que se tratava de um meteoro. No entanto, especialistas descartaram essa possibilidade com base em três pontos principais: a velocidade reduzida do objeto, o rastro persistente de luz e a trajetória prevista por sistemas de monitoramento orbital.
Segundo astrônomos e cientistas planetários, o fato do fenômeno ser visível com tanta clareza na Bahia e em outros estados do chamado “sul global” não é coincidência. Regiões próximas à linha do Equador, como o Brasil, estão mais suscetíveis a receber reentradas de objetos espaciais com órbitas excêntricas. Essas trajetórias, que acompanham a rotação da Terra, tendem a concentrar lixo espacial sobre áreas tropicais. Países como o Brasil, que ainda não possuem programas espaciais de grande porte, são frequentemente sobrevoados por detritos oriundos de missões lançadas por potências espaciais como Estados Unidos, China e Rússia.
O fenômeno observado na Bahia serve de alerta para um problema crescente no espaço: o acúmulo de lixo orbital. Estima-se que existam mais de 30 mil objetos não funcionais em órbita da Terra, incluindo satélites desativados, partes de foguetes e até ferramentas perdidas por astronautas. Embora muitos desses objetos queimem completamente ao reentrar, há sempre o risco de que fragmentos cheguem ao solo. Apesar do susto, não há registros de danos causados pelo objeto que atravessou o céu da Bahia. Contudo, o episódio reacende o debate sobre a necessidade de políticas internacionais mais rígidas para o controle e descarte seguro de componentes espaciais.